quarta-feira, 6 de março de 2019

As cartas que não mandei



você é toda a saudade que eu não tive tempo de matar, minha vontade apressada de uma vida que só fez sentido entre fuso horário, noites em claro e poemas declamados. e talvez seja por isso que ainda te escrevo, na inútil tentativa que você me leia onde quer que esteja. para que saibas que de alguma forma você ainda existe aqui e que virou meu refugio te escrever todas as noites e guardar as cartas em um envelope qualquer, porque nenhum carteiro daria conta do peso da saudade que elas carregam.

ainda te escrevo para aliviar a tensão dos dias corriqueiros, com o coração apertado, preso na esperança de que a qualquer momento irá me responder, preso na certeza de que consegue ouvir meu silencio quando o sono te abraça e te faz sonhar com todos os planos empoeirados que você deixou aqui.
consegue perceber? os anos passam, voam, e as lembranças continuam intactas, a saudade de uma vida que eu não vivi, a vontade insuportável de um abraço que não deu tempo sentir. eu me reponho no caminho disposta a seguir, mas me boicoto ao lembrar de tudo que poderíamos ser e não fomos, do tanto que poderíamos ter e não tivemos, do quanto tínhamos à viver e nos velamos. matamos. nos enterramos. colocamos o ponto final em uma história sem ao menos por espaço para um possível paragrafo.
você é toda a minha tentativa fracassada em falar de amor, porque embora os rumos nos sejam contrários, sempre terá algo sobre você entranhado nas entrelinhas de tudo aquilo que eu digo, escrevo e espero...

Josseny Kenny